domingo, 27 de abril de 2008

25 de Abril ... até Sempre !!



Hoje é dia 25 de Abril, faz 34 anos que se deu a Revolução dos Capitães. Não foi um acontecimento por mim vivido, contudo, desde pequeno me foi incutido o seu propósito, a sua função, a sua necessidade. Posso dizer que sou bastante politizado, já me deixei de partidarismos há algum tempo, deixei de votar, deixei de tomar uma posição politicamente activa neste país. A razão desta minha decisão passa por motivos pessoais e profissionais. Não me consigo identificar por muito que me esforce, e palavra de honra que me esforço, com esta mentalidade, com este fio condutor sem objectivo, sem projecto, sem estrutura.
Neste momento enquanto escrevo este post assisto ao programa da RTP1 "Vozes de Abril", relembro alguns episódios que me foram relatados pela geração nascida nas décadas de 40 e de 50. Compreendo-as, sinto-as, para mim têm significado, têm sentido. O que se passou a 25 de Abril de 1974, não passou de uma utopia, de um sonho que nunca chegou a ser realidade por motivos capitalistas, por motivos que nos ultrapassam a todos.Várias vezes no programa foi referido que fulano tal, não pode comparecer na cerimónia por motivos de saúde, que é feito deles?! Que será feito do 25 de Abril quando eles nos deixarem?! A minha geração pouco se importa, para eles é única e exclusivamente um dia em que não há escola, não se trabalha e que por sinal até deu para aproveitar um belo dia de praia. Não quero aqui ser um defensor de manifestações políticas ou de qualquer outra coisa do género, mas confesso que gostava que se pensasse num rumo a seguir, no significado deste dia. Não sou um adepto da frase "25 de Abril SEMPRE!!". Insofismavelmente já faço parto da geração em que o SEMPRE pouco sentido intrínseco terá para mim, contudo não deixo de a conseguir compreender, muito por culpa da educação. A minha família sofreu com o antigo regime, alguns morreram simplesmente porque tinham outras ideologias políticas. Muitas vezes penso que se vivesse nessa época talvez fizesse parte dos nomes que listam no livro "Tarrafal" por exemplo. Contudo os que me conhecem sabem que vivo ferverosamente esta data, caem-me lágrimas quando oiço certas músicas, quando oiço certos poemas ou quando vejo certas imagens. Assisti ao programa da RTP de uma varanda na casa de um casal amigo, disfrutando de uma bela de noite primaveril, por momentos olhava para as pessoas que passavam na rua rumo ao centro da vila, passando indiferentes ao que se celebrava ou relembrava, se preferirem. Confesso que me fez alguma confusão, não porque não estivessem a assistir ao programa, isso pouco me importa, é uma decisão pessoal, mas porque se sente e percebe que naquelas mentes este assunto não interessa, aquelas pessoas nem sequer pensam que se não fossem aquelas pessoas naquele dia a tomar tal decisão de "acabar com o estado a que isto chegou" talvez hoje não tivessem a hipótese de levar e disfrutar da vida com as regalias que usufruem. Como dizia o agora Coronel Santos Silva que na altura tomou o RCP e que passo a citar, "o número de cabelos brancos que se vêem nesta plateia é uma homenagem que o tempo nos faz..."
O 25 de Abril por certo desvanecer-se-á no tempo, passará a ser mais uma data que apenas estará escrita nos livros de história do Secundário, para ser citado ou transcrito num qualquer teste de um qualquer período escolar. Sinceramente tenho pena, os valores que surgiram e que movimentaram aqueles homens, serão por certo por mim transmitidos a quem comigo se cruzar na vida, não em conversa de café, nem tão pouco a quem apenas passar por mim somente por uma “estação”, mas sim a quem comigo conviver, a quem comigo partilhar momentos com uma certa concistência, a quem eu sentir que vale a pena.
Não vou dizer 25 de Abril SEMPRE, mas direi certamente, 25 de Abril não me esquecerei.
"Eu sou português aqui
em terra e fome talhado,
feito de barro e carvão,
rasgado pelo vento norte,
amante certo da morte
no silêncio da agressão.

Eu sou português aqui
mas nascido deste lado,
do lado de cá da vida,
do lado do sofrimento,
da miséria repetida,
do pé descalço, do vento.

Nasci deste lado da cidade
nesta margem,
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.

Eu sou português aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil, no gozo,
no sorriso doloroso,
no gingar dum marinheiro.

Nasci deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura,
da anedota, do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.

Eu sou português aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.

Nasci aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.

Nasci aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.

Eu sou a festa inacabada,
quase ausente,
eu sou a briga,
a luta antiga
renovada
ainda urgente.

Eu sou português aqui
o português sem mestre
mas com jeito.

Eu sou português aqui
e trago o mês de Abril
a voar dentro do peito."

José Fanha