sexta-feira, 13 de junho de 2008

Globalização.com


Há uns dias atrás cruzei-me com um colega de turma num dos corredores da faculdade onde estudamos. Após o socialmente correcto cumprimento, aquele, aproveitou o inesperado encontro para antecipar o que mais tarde percebi ser uma espécie de despedida. Corre a fatigante época de exames, período no qual os alunos recorrem não às “férias sabáticas” mas a qualquer coisa que a elas se assemelham. Cada um vai para sua casa ou quarto residencial estudar, e de quando em vez, lá se cruzam, como foi o caso, nos corredores. Uns em direcção à biblioteca, outros a vir da biblioteca!
Após pouco mais de cinco minutos de conversa a pessoa em questão, começou a esboçar a razão pela qual aquele cumprimento tomava então mais tempo do que os vulgos “tudo bem!” aquando dos normais encontros fugazes que acima descrevo. Na altura disse-me que, provavelmente não nos encontraríamos novamente. Naturalmente perguntei-lhe a razão de tal dedução, ao que me explicou que não estaria satisfeito com o curso nem com a metodologia de ensino adoptada, pelo que, tinha pedido e já teria sido aceite a sua transferência de faculdade para outro país, continuando assim os seus estudos de Medicina.
O resto da conversa foi trivial, assim como a despedida nestas situações, desejei-lhe as maiores felicidades e sucesso para a sua vida, resposta idêntica e politicamente correcta da sua parte também.
Este é um dos casos resultantes do tão famigerado fenómeno da Globalização, ou de preferirem da “Aldeia Global”. Não sou adepto das despedidas, acho-as até uma ingratidão perante o destino que junta duas ou mais pessoas numa determinada altura num determinado lugar. Contudo, vi-me forçado a verbalizar uma despedida com alguma dose de certeza de que nunca voltarei a ver tal pessoa, estudámos juntos durante um ano e cada um segue agora a sua vida. Cada vez mais este fenómeno se verifica por esse mundo fora, talvez tenha de me começar a habituar às despedidas, deixando de lado o tão meu “até já” (note-se que, é meu apanágio utilizar esta frase de há uns anos a esta parte, não querendo portanto fazer qualquer tipo de publicidade ou utilizar slogans pré-concebidos).
Eu próprio começo a pensar onde irei eu parar num futuro mais próximo ou longínquo? Já deixei de fazer planos para a vida há algum tempo, a vida vira e revira num piscar de olhos, como diria o autor “a vida às vezes muda no espaço de um grito que nem nos dá tempo para nos adaptarmos.”
Não sei se ficarei por este país onde agora estudo, se volto para o país onde nasci ou se também seguirei o mesmo trajecto deste meu colega de que falo, tomando a iniciativa de neste ou naquele ano pedir transferência para outro canto do mundo. Sinceramente não sei, e as incertezas sobre o futuro neste aspecto crescem de dia para dia.
Surgem-me vários problemas com esta história das incertezas geográfico-temporais, sendo talvez o meu maior sonho constituir uma família, partilhar e transmitir valores, ideias, experiências a quem estiver disposto a seguir comigo um caminho comum dando assim origem a uma nova geração, onde, como e quando tal sonho se realizará? E com esta inconstância qual a sua viabilidade?
Perguntas que cada vez mais me custam a responder. Não nego que gostaria de fazer um “forward temporal” só para ver, lá à frente o que me espera a vários níveis. Como por enquanto isso ainda não é possível, vai-se por aqui vivendo “um dia atrás do outro”!!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

9 de Junho de 2008

Agora descanse Maria, já é tempo…
Até sempre! ...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Os contornos macabros das relações.


Muitas vezes me pergunto o que é que nós andamos por “cá” a fazer? Como diria um amigo meu, uns passam pela vida, outros, é a vida que passa por eles. Devo confessar, sem querer ser derrotista, que acho que para a maior parte das pessoas se ajusta mais a segunda parte da ideia.
Hoje dei por mim a pensar em que é que se baseiam as relações humanas. Certamente em mais-valias ou motivações, sejam elas de que tipo forem, não me caberá a mim fazer juízos de valor em relação a isso. Contudo, e particularizando os vários tipos de relações, inevitavelmente me vêm à ideia as relações matrimoniais, de união de facto, ou simplesmente de namoro, serão talvez as mais íntimas que podem acontecer entre duas pessoas. Nestas, hoje em dia tudo é combinado de antemão, “o que é meu é meu, o que é teu é teu”, e assim se vai vivendo, ou melhor dizendo, convivendo! Os espaços e as linhas limítrofes onde se é permitido actuar, de uma e de outra parte estão logo à partida muito bem definidos, não se diz o que se pensa, mas pensa-se bem no que se diz, não se age à vontade mas opera-se (com um sentido bastante depreciativo da palavra) dentro do que é permitido pelos contractos pré-nupciais verbalmente, ou até mesmo por escrito, definidos antecipadamente.
O que mais me faz confusão, é que hoje os casais partem para as relações quase como se “dormissem com o inimigo”, como se coabitassem com um qualquer tipo de espião, salvaguardando demais as suas vidas, ou melhor dizendo, guardando bem fechados a “sete chaves” os seus trunfos para uma eventual e quase premeditada desdita na relação. Hoje em dia ninguém parte para uma relação com um sentido de confiança mútua. Praticamente todas as pessoas partem para as relações com esse sentido de, “caso a coisa não dê certo, tenho isto ou aquilo para me agarrar”, caramba que raio de pensamento para uma coisa que é suposto trazer conforto, paz de espírito, cumplicidade, realização pessoal, etc. A sensação que dá, é que se fazem seguros sentimentais, talvez ainda chegue o dia em que as seguradoras se lembrem desta ideia, também não vou querer ser eu o visionário do negócio, diga-se de passagem.
Não nos devemos esquecer que o Homem é um ser social e não anti-social. Em parte, parece que refuto o que foi por mim escrito há uns posts atrás, aquando da descrição da “insustentável solidão do meu ser”, ou talvez não, talvez seja essa a principal razão da insustentável solidão do meu ser, é que pouca ou nenhuma paciência tenho para burocracias administrativas, afastando-me portanto deste tipo de pré-acordos.
Contudo, devo confessar que também eu actuo de certa forma da maneira que acima descrevo, o que, permitam-me dizer, me irrita solenemente. Talvez sejam já ensinamentos da vida, talvez seja uma espécie de medo que me é intrínsico, ou direi desconfiança da pureza e/ou veracidade dos sentimentos da pessoa com quem durmo! É bem possível. Certo é que, também não parto para uma relação sem uma espécie de plano B, isto é, sem uma alternativa viável para a eventual desdita, por muito que me esforce não consigo acreditar nas pessoas. Não consigo confiar, entrego-me completamente, acabo por dar o que tenho, e o que não tenho invento desta ou daquela forma. E isso acaba por criar em mim um medo aterrador, sinto-me por vezes como um trapezista a funcionar sem rede, talvez daí o plano B sempre bem presente na ideia, tem um efeito em mim como que de uma pseudo-rede se tratasse, não existe, mas para mim torna-se bem real, o que me dá algum conforto. Até aqui tudo bem, como se diz em psicologia não é mais do que um mecanismo de defesa do ego.
A vida já me ensinou que as facturas pagam-se todas, e ao cêntimo, as relações parecem ser contabilizadas, lembrando-me aqueles livros pretos das antigas mercearias de bairro, onde as páginas eram divididas a meio por uma ténue linha vermelha, onde se assentava o que se deve e o que se tem a haver, e eu que odeio contabilidade e facturas. Posso até dizer que nem arte tenho para facturar, não tenho jeito e dá-me um trabalhão fazer aquelas deduções do IVA, aquando das declarações do IRS. Já o disse aqui que odeio trabalho burocrático, não nasci para manga-de-alpaca, mas percebo bem que é daí que vem grande parte do meu orgulho pessoal, é que até hoje tudo me foi cobrado e com juros bastante elevados, bem mais flutuantes que a Euribor, até ao cêntimo, quando eu, na minha ingenuidade mal sabia para que servia o formulário H nas declarações electrónicas da DGCI.
Quanto ao tão famigerado plano B também devo confessar que nunca resultou até hoje, sai sempre furado, não sou um estratega nato, está visto!
É certo que hoje se vive a era do descartável, já não se conserta nada, tudo o que se estraga ou funciona menos bem torna-se passível e bastante mais rentável de ser trocado por um novo a mandar para conserto. Assim o é, e transpondo o pensamento para as relações humanas, quando a coisa já não funciona tão bem como era esperado, também não vai para conserto, troca-se por uma nova, e assim se vai andando, as pessoas pensam que são felizes e procuram não sabem muito bem o quê. Andam todos à procura de príncipes e princesas encantados e esquecem-se que é perante as dificuldades da vida que os verdadeiros tesouros se revelam. Porém concordo que é mais fácil trocar por um novo, mas será que é a melhor opção? É que essa coisa de manter relações por 30, 40 ou 50 anos “já foi chão que deu uva”, essa maneira de pensar, de condescender, de partilhar sofrimentos, de fazer projectos comuns ao invés de projectos paralelos, já não se usa, dá muito trabalho pensar acham as mentes mais novas. Note-se que quando digo mentes mais novas não me refiro de todo à idade do B.I., como diria o Daniel Sampaio às vezes os pais tomam o lugar dos filhos e chegam mesmo a confundir-se com eles com o intuito de serem uns pais “prá frentex” fazendo no meu ponto de vista figuras ridículas, mas quem sou eu novamente para fazer juízos de valor!!
O que é certo é que as relações hoje são todas combinadas ao mais ínfimo pormenor, forçadas, e pior do que tudo salvaguardadas de uma forma medonha para mim. Não nasci de modo algum para esse tipo de representações teatrais, gosto de me sentir, como diria um colega de curso utilizando um jargão dos seus tempos de Marinha, “à vontadinha”.
Tenho bastante relutância em aceitar o que quer que seja de alguém, gosto e admiro aqueles que subiram na vida a pulso sem factores “C” à mistura, o que diga-se de passagem no nosso país começa a escassear. Estes são parte dos meus princípios e assim os tenciono preservar, enquanto a lucidez assim o permitir.