sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

In the arms of an angel...



For those people who asked me to publish something in english, here's my first post in that notorious Universal Language. Not so much to say about it, I think the lyrics of the video above say everything that's going arround here. Althought, I must add, that I've been away from this blog for quite long, "guilty as charged" for that!!! This was not because I don't feel the need to write, but because I didn't have so much time or mood to do it and update the blog until now. Lots of work to do and that BIG, SCARY subject to study as it is anatomy, specially arround here...
I just hope that this angel can track me in his arms until my final destiny... the MUDr. graduation!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Um dia destes...

Um dia destes à noite dei por mim a reler este blog. Com os posts, revivi peripécias da minha vida pessoal, relembrei pessoas, lugares, um sem número de emoções avassalaram o meu ego.
Relembrei uma crónica de um escritor que admiro, quando por momentos parei no tempo e olhei pela janela do meu quarto, o lugar onde deveriam estar as luzes da cidade tinha sido substituído por um homem com barba por fazer, ar pensativo e um olhar no infinito. O que iria naquela cabeça? Sinceramente não me preocupei de todo em tentar perceber. Notava apenas que se sentia só. Não sei se algum dia o voltarei a ver. Não o tentei procurar do outro lado do vidro, apenas me limitei a ... observá-lo!
Não serei eu certamente que julgarei este blog, alguém que o faça por mim, apenas não me sinto nem capaz, nem tampoco me é reservado o direito de o fazer. Contudo há uma coisa que não deixou de me surpreender, a quantidade de linhas que se acumulam em cada “crónica” que por aqui se escreve. Lembrei-me tantas vezes do terror que sentia nos meus tempos da escola primária quando a professora entrava na aula e nos dava a tenebrosa notícia de que iria haver composição naquele dia sobre um qualquer tema. Que tormentos que eu passava! Lembro-me tão bem, eu que nunca conseguia escrever mais do que dez linhas no máximo, e para lá chegar, a ginástica mental que tinha de fazer, o quanto tinha de arrastar a letra, que diga-se de passagem, ainda hoje é horrível, para ocupar mais espaço no papel. Talvez devesse ter passado mais tempo com os modorros e entediantes “cadernos de duas linhas”. Tantas e tantas vezes levei umas chapadas de uma outra professora, a Professora Alice, que por sinal nem era a minha, quando entrava na sala tinha obrigatoriamente de passar por mim para ir ter com a colega. Eu que estava logo na linha da frente. Sempre que a via entrar, era-me certo o meu destino num muito curto espaço de tempo. Quando batiam à porta e eu vislumbrava através do vidro fosco uma figura de estatura baixa, curvada pelo peso da idade e sempre vestida de preto, presumo que se tratasse de um luto, nunca o soube ao certo, sentia as pernas a tremer. Era bastante previsível o que me esperava! Hoje relembro a situação com humor, na altura não conseguia discernir muita graça na atitude.
Lembro esses dias de composição, quando a minha mãe chegava a casa e me perguntava o que tinha feito na escola, ao que eu respondia cabisbaixo.
- Hoje fizemos uma composição.
- Pronto já tiveste o dia estragado.
Qualquer coisa deste tipo me dizia na altura a minha mãe. Sorrio enquanto escrevo estas linhas...
Eu que não falhava uma conta de somar, subtrair, dividir ou multiplicar na Matemática. Mais tarde já no ciclo preparatório não falhava uma reacção química, um problema de Física, então a Biologia nem se fala, quase não a estudava.
Mais tarde apareceram a História e a posteriori a Filosofia, outros tormentos. Disciplinas onde, da mesma forma tinha de compor textos com mais de dez linhas. Parecia que as composições me perseguiam, que me atormentavam tiranicamente!
Hoje continuo sem falhar muito nas contas de Matemática, nas reacções de Química Orgânica, bem mais complexas, nas Biologias, nas Anatomias, etc e quando olho para este blog vejo que já consigo escrever mais do que dez linhas.
A minha letra, essa continua intragável, nem as palmadas da Professora Alice serviram para a corrigir, ou pelo menos melhorar, devo dizer até que com o Tempo parece-me que se vai deteriorando, mas isso é o que o Tempo faz a tudo, acaba por deteriorar tudo no mundo.
Não sou mais um miúdo sem barba, hoje sou um homem com barba por fazer, ar pensativo e um olhar no infinito que substitui as luzes da cidade na janela do meu quarto. Que consegue escrever mais do que dez linhas!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Lugares...


Um final de dia algures perto de Lisboa. Há momentos inesquecíveis!

sábado, 9 de agosto de 2008

Mens sana in corpore sanum


Tive hoje, tal como milhões de pessoas, o enorme “prazer” de assistir a um dos acontecimentos mais mediáticos que acontece de quatro em quatro anos, a abertura dos Jogos Olímpicos, que este ano realizar-se-ão em Pequim (China).
A organização chinesa, foi alvo, desde há algum tempo a esta parte de inúmeras críticas e controvérsias por parte dos media, ONG’s e governos de todo o mundo. O respeito pelos Direitos Humanos, as exigências da Amnistia Internacional, entre outros, não foram como todos nós sabemos cumpridos, tal como foi prometido pelo governo absolutista chinês aquando da sua candidatura à organização dos mesmos.
Quanto a este facto está aos olhos de todos, que o governo chinês fez uma política demagógica e hipócrita quando se comprometeu a cumprir os requisitos impostos pelo Comité Olímpico Internacional. Comité este, ao qual única e exclusivamente deve ser imputada a consequência de tal decisão. Quanto a este facto nem me vou pronunciar! Já estive na China, e não foi a “passar férias” vivi de perto o quotidiano chinês, pelo que me apercebi da situação político-social vivida por aquele país. Relembremos por exemplo os acontecimentos de Tian’anmen de alguns anos atrás. Ainda hoje o governo chinês faz passar a ideia de “ um grupo de estudantes rebeldes” que atentavam contra a pátria. Esta imagem ainda hoje está presente na iliteracia popular chinesa.
Contudo, não foram motivos de carácter político quer me trouxeram a escrever este “post”. Posso desde já adiantar que, admirei a competência, disciplina, rigor, pontualidade, tecnologia e coreografias presentes na apresentação da cerimónia de abertura dos Jogos por parte da organização chinesa. A meu ver, é sem dúvida “de se lhe tirar o chapéu”. Não estaria à espera de outra coisa por parte de uma China que se quer afirmar, e mostrar o seu enorme potencial ao mundo, esta será a "imagem de marca" chinesa para todo o mundo, que por sinal foi a meu ver extremamente bem gerida e cumprida.
A imagem de uma China que cresce a todos os níveis e que invade os mercados financeiros de todo o mundo, uma China que “controla”, ameaça e faz tremer, a seu belo prazer todas as bolsas com as suas decisões, desde o NASDAQ, Dow Jones, Frankfurter Wertpapierbörse (FWB) bem como todos os índices Europeus, ao Nikkei de Tóquio.
Esta é a China que vai emergindo e que se apresenta ao mundo, uma China, moderna, uma China tecnológica, uma China no seu expoente máximo. Uma China que deixa a “léguas” as ficções “Hollywoodescas” dos EUA.
Penso que temos uma China a sério, e com fortes motivos para que nos preocupemos!
A China passou com distinção neste exame, a todos os níveis, nota, 20 valores.
Desde já os meus parabéns à organização, a abertura foi esplêndida, um misto de tradição aliada à inovação. Espero que o espírito do Barão Pierre de Coubertin seja o principal vencedor destes Jogos.

Mens sana in corpore sanum!!!

terça-feira, 8 de julho de 2008

O tempo, a experiência.


São agora algumas horas da manhã, o sono, esse teima em não vir. Encontro-me de férias (se assim o poderei definir) no meu país natal. Fazendo uma retrospectiva de mais um ano passado, chego à conclusão que, no que diz respeito a conhecimentos de cariz científico, pouco aprendi de novo, penso que esses ainda estarão para vir a sério com a evolução do meu percurso académico. Em matéria de experiência pessoal, posso dizer que foi tremendamente proveitoso, superando mesmo a meu ver, talvez uma década de vivência neste país.
Como alguém me dizia há algum tempo, “a experiência é aquilo que adquirimos quando já não precisamos dela”, não posso hoje em dia deixar de refutar esta ideia. A experiência que fui adquirindo ao longo destes ainda poucos anos de vida ajudou-me bastante a vários níveis posso dizer, não só ao nível científico, mas sobretudo ao nível social e humano. A forma como olho as pessoas, a vida, os lugares, etc, mostra-se tão diferente daqueles com quem mais perto lido, talvez seja a idade que marca a diferença, talvez a idade nos dê outros olhos para olhar as coisas, ou talvez seja, e esta penso ser o mais plausível dos argumentos, a lucidez de espírito para relativizar os problemas, o poder dedutivo das memórias que encadeadas geram essa mesma experiência. Terei conseguido algum sucesso graças a tudo isto? Penso que sim, impreterivelmente, os bons e maus momentos que passei na vida e que sem dúvida fazem de mim o que sou hoje ajudaram-me a lidar com algumas situações de forma lógica e racional, pus de parte muitas vezes a emoção, e controlei o desespero. É a isso que se chama experiência? Talvez, pouco importa como é definido este conceito, o que interessa foi a maneira como inevitavelmente e talvez até inconscientemente o “importei” do meu passado para o meu uso pessoal no presente.
Olho para trás e digo para mim mesmo já passou mais um ano! Que fugaz, a vida torna-se efémera quando contabilizamos o tempo passado, foram aproximadamente doze meses, multiplicados por uma média de trinta dias parecem uma eternidade, não contabilizando horas, minutos nem segundos. Quando olhamos para o futuro temos por hábito mesmo que inconscientemente contabilizá-los o que torna aparentemente tudo muito mais longínquo, ao invés, quando olhamos para trás temos sempre a sensação que isto ou aquilo que se passou foi ontem, são-nos clarividentes na mente até os detalhes de um determinado dia. Será esta também uma das características da relatividade do tempo? Chego à conclusão que o tempo é assertivamente relativo na nossa mente, tornamo-lo assim. O futuro demora a chegar, enquanto o passado parece aqui tão perto, e nos entretantos, o tempo voou, parece que encurtou. Há quem defenda a tese que diz que se pararmos o tempo a realidade deixa de ter três dimensões e passa a ter duas, tudo fica reduzido a planos. Será essa a concepção que o nosso cérebro faz do tempo? Sem dúvida que os planos têm menos volume do que os corpos a três dimensões, e isso encurtará também o tempo?
Pondo um pouco de lado estes caprichos da imaginação e voltando ao que me traz a escrever este post, por entre o fumo do cigarro que se vai desenhando no ar, iluminado pela luz do candeeiro da rua que neste momento me entra pela janela, volto à “vantagem” da experiência, da adquirida e da que virei ainda a adquirir. Ser-me-á útil sem dúvida nos percursos cambiantes dos tempos que ainda me esperam. Durante este ano foi-me notório que a experiência é uma mais-valia enorme na vida de uma pessoa. Aquela experiência que não pode ser alcançada pelos livros, que ninguém dá palestras ou faz congressos sobre ela, aquela experiência que dá o tal “posto” à idade e que infelizmente a meu ver cada vez mais se vai perdendo. Andam por aí pessoas com experiência, anónimos que nunca ousaram sequer pensar numa condecoração que hoje se dá a preço muito baixo do tipo Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, anónimos que por vezes não sabem sequer ler nem escrever, mas que ensinam a quem estiver disposto a ouvir, fazem o papel de Professores sem ostentarem tal título, sem nunca lhes ser reconhecido esse valor social. E como tantas vezes já vi eu “fintarem” tão bem alguns doutores e engenheiros deste país, mesmo quando estes se encontram no seu domínio científico. Há uma coisa que ensina muito mais do que qualquer livro, do que qualquer faculdade, do que qualquer mente brilhante, a essa chamo-lhe vida e com ela, se for vista com olhos de ver, se efectivamente passarmos por ela e não ela passar apenas por nós, vem a experiência.
Este ano principalmente aprendi que devo ouvir mais e falar menos.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Globalização.com


Há uns dias atrás cruzei-me com um colega de turma num dos corredores da faculdade onde estudamos. Após o socialmente correcto cumprimento, aquele, aproveitou o inesperado encontro para antecipar o que mais tarde percebi ser uma espécie de despedida. Corre a fatigante época de exames, período no qual os alunos recorrem não às “férias sabáticas” mas a qualquer coisa que a elas se assemelham. Cada um vai para sua casa ou quarto residencial estudar, e de quando em vez, lá se cruzam, como foi o caso, nos corredores. Uns em direcção à biblioteca, outros a vir da biblioteca!
Após pouco mais de cinco minutos de conversa a pessoa em questão, começou a esboçar a razão pela qual aquele cumprimento tomava então mais tempo do que os vulgos “tudo bem!” aquando dos normais encontros fugazes que acima descrevo. Na altura disse-me que, provavelmente não nos encontraríamos novamente. Naturalmente perguntei-lhe a razão de tal dedução, ao que me explicou que não estaria satisfeito com o curso nem com a metodologia de ensino adoptada, pelo que, tinha pedido e já teria sido aceite a sua transferência de faculdade para outro país, continuando assim os seus estudos de Medicina.
O resto da conversa foi trivial, assim como a despedida nestas situações, desejei-lhe as maiores felicidades e sucesso para a sua vida, resposta idêntica e politicamente correcta da sua parte também.
Este é um dos casos resultantes do tão famigerado fenómeno da Globalização, ou de preferirem da “Aldeia Global”. Não sou adepto das despedidas, acho-as até uma ingratidão perante o destino que junta duas ou mais pessoas numa determinada altura num determinado lugar. Contudo, vi-me forçado a verbalizar uma despedida com alguma dose de certeza de que nunca voltarei a ver tal pessoa, estudámos juntos durante um ano e cada um segue agora a sua vida. Cada vez mais este fenómeno se verifica por esse mundo fora, talvez tenha de me começar a habituar às despedidas, deixando de lado o tão meu “até já” (note-se que, é meu apanágio utilizar esta frase de há uns anos a esta parte, não querendo portanto fazer qualquer tipo de publicidade ou utilizar slogans pré-concebidos).
Eu próprio começo a pensar onde irei eu parar num futuro mais próximo ou longínquo? Já deixei de fazer planos para a vida há algum tempo, a vida vira e revira num piscar de olhos, como diria o autor “a vida às vezes muda no espaço de um grito que nem nos dá tempo para nos adaptarmos.”
Não sei se ficarei por este país onde agora estudo, se volto para o país onde nasci ou se também seguirei o mesmo trajecto deste meu colega de que falo, tomando a iniciativa de neste ou naquele ano pedir transferência para outro canto do mundo. Sinceramente não sei, e as incertezas sobre o futuro neste aspecto crescem de dia para dia.
Surgem-me vários problemas com esta história das incertezas geográfico-temporais, sendo talvez o meu maior sonho constituir uma família, partilhar e transmitir valores, ideias, experiências a quem estiver disposto a seguir comigo um caminho comum dando assim origem a uma nova geração, onde, como e quando tal sonho se realizará? E com esta inconstância qual a sua viabilidade?
Perguntas que cada vez mais me custam a responder. Não nego que gostaria de fazer um “forward temporal” só para ver, lá à frente o que me espera a vários níveis. Como por enquanto isso ainda não é possível, vai-se por aqui vivendo “um dia atrás do outro”!!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

9 de Junho de 2008

Agora descanse Maria, já é tempo…
Até sempre! ...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Os contornos macabros das relações.


Muitas vezes me pergunto o que é que nós andamos por “cá” a fazer? Como diria um amigo meu, uns passam pela vida, outros, é a vida que passa por eles. Devo confessar, sem querer ser derrotista, que acho que para a maior parte das pessoas se ajusta mais a segunda parte da ideia.
Hoje dei por mim a pensar em que é que se baseiam as relações humanas. Certamente em mais-valias ou motivações, sejam elas de que tipo forem, não me caberá a mim fazer juízos de valor em relação a isso. Contudo, e particularizando os vários tipos de relações, inevitavelmente me vêm à ideia as relações matrimoniais, de união de facto, ou simplesmente de namoro, serão talvez as mais íntimas que podem acontecer entre duas pessoas. Nestas, hoje em dia tudo é combinado de antemão, “o que é meu é meu, o que é teu é teu”, e assim se vai vivendo, ou melhor dizendo, convivendo! Os espaços e as linhas limítrofes onde se é permitido actuar, de uma e de outra parte estão logo à partida muito bem definidos, não se diz o que se pensa, mas pensa-se bem no que se diz, não se age à vontade mas opera-se (com um sentido bastante depreciativo da palavra) dentro do que é permitido pelos contractos pré-nupciais verbalmente, ou até mesmo por escrito, definidos antecipadamente.
O que mais me faz confusão, é que hoje os casais partem para as relações quase como se “dormissem com o inimigo”, como se coabitassem com um qualquer tipo de espião, salvaguardando demais as suas vidas, ou melhor dizendo, guardando bem fechados a “sete chaves” os seus trunfos para uma eventual e quase premeditada desdita na relação. Hoje em dia ninguém parte para uma relação com um sentido de confiança mútua. Praticamente todas as pessoas partem para as relações com esse sentido de, “caso a coisa não dê certo, tenho isto ou aquilo para me agarrar”, caramba que raio de pensamento para uma coisa que é suposto trazer conforto, paz de espírito, cumplicidade, realização pessoal, etc. A sensação que dá, é que se fazem seguros sentimentais, talvez ainda chegue o dia em que as seguradoras se lembrem desta ideia, também não vou querer ser eu o visionário do negócio, diga-se de passagem.
Não nos devemos esquecer que o Homem é um ser social e não anti-social. Em parte, parece que refuto o que foi por mim escrito há uns posts atrás, aquando da descrição da “insustentável solidão do meu ser”, ou talvez não, talvez seja essa a principal razão da insustentável solidão do meu ser, é que pouca ou nenhuma paciência tenho para burocracias administrativas, afastando-me portanto deste tipo de pré-acordos.
Contudo, devo confessar que também eu actuo de certa forma da maneira que acima descrevo, o que, permitam-me dizer, me irrita solenemente. Talvez sejam já ensinamentos da vida, talvez seja uma espécie de medo que me é intrínsico, ou direi desconfiança da pureza e/ou veracidade dos sentimentos da pessoa com quem durmo! É bem possível. Certo é que, também não parto para uma relação sem uma espécie de plano B, isto é, sem uma alternativa viável para a eventual desdita, por muito que me esforce não consigo acreditar nas pessoas. Não consigo confiar, entrego-me completamente, acabo por dar o que tenho, e o que não tenho invento desta ou daquela forma. E isso acaba por criar em mim um medo aterrador, sinto-me por vezes como um trapezista a funcionar sem rede, talvez daí o plano B sempre bem presente na ideia, tem um efeito em mim como que de uma pseudo-rede se tratasse, não existe, mas para mim torna-se bem real, o que me dá algum conforto. Até aqui tudo bem, como se diz em psicologia não é mais do que um mecanismo de defesa do ego.
A vida já me ensinou que as facturas pagam-se todas, e ao cêntimo, as relações parecem ser contabilizadas, lembrando-me aqueles livros pretos das antigas mercearias de bairro, onde as páginas eram divididas a meio por uma ténue linha vermelha, onde se assentava o que se deve e o que se tem a haver, e eu que odeio contabilidade e facturas. Posso até dizer que nem arte tenho para facturar, não tenho jeito e dá-me um trabalhão fazer aquelas deduções do IVA, aquando das declarações do IRS. Já o disse aqui que odeio trabalho burocrático, não nasci para manga-de-alpaca, mas percebo bem que é daí que vem grande parte do meu orgulho pessoal, é que até hoje tudo me foi cobrado e com juros bastante elevados, bem mais flutuantes que a Euribor, até ao cêntimo, quando eu, na minha ingenuidade mal sabia para que servia o formulário H nas declarações electrónicas da DGCI.
Quanto ao tão famigerado plano B também devo confessar que nunca resultou até hoje, sai sempre furado, não sou um estratega nato, está visto!
É certo que hoje se vive a era do descartável, já não se conserta nada, tudo o que se estraga ou funciona menos bem torna-se passível e bastante mais rentável de ser trocado por um novo a mandar para conserto. Assim o é, e transpondo o pensamento para as relações humanas, quando a coisa já não funciona tão bem como era esperado, também não vai para conserto, troca-se por uma nova, e assim se vai andando, as pessoas pensam que são felizes e procuram não sabem muito bem o quê. Andam todos à procura de príncipes e princesas encantados e esquecem-se que é perante as dificuldades da vida que os verdadeiros tesouros se revelam. Porém concordo que é mais fácil trocar por um novo, mas será que é a melhor opção? É que essa coisa de manter relações por 30, 40 ou 50 anos “já foi chão que deu uva”, essa maneira de pensar, de condescender, de partilhar sofrimentos, de fazer projectos comuns ao invés de projectos paralelos, já não se usa, dá muito trabalho pensar acham as mentes mais novas. Note-se que quando digo mentes mais novas não me refiro de todo à idade do B.I., como diria o Daniel Sampaio às vezes os pais tomam o lugar dos filhos e chegam mesmo a confundir-se com eles com o intuito de serem uns pais “prá frentex” fazendo no meu ponto de vista figuras ridículas, mas quem sou eu novamente para fazer juízos de valor!!
O que é certo é que as relações hoje são todas combinadas ao mais ínfimo pormenor, forçadas, e pior do que tudo salvaguardadas de uma forma medonha para mim. Não nasci de modo algum para esse tipo de representações teatrais, gosto de me sentir, como diria um colega de curso utilizando um jargão dos seus tempos de Marinha, “à vontadinha”.
Tenho bastante relutância em aceitar o que quer que seja de alguém, gosto e admiro aqueles que subiram na vida a pulso sem factores “C” à mistura, o que diga-se de passagem no nosso país começa a escassear. Estes são parte dos meus princípios e assim os tenciono preservar, enquanto a lucidez assim o permitir.

domingo, 25 de maio de 2008

Maria...

Não irá ler concerteza estas palavras Maria, contudo não poderia deixar de as escrever, são para si, para onde quer que vá, ou onde já quer que esteja…
Não sei se nos voltaremos a ver, talvez sim, possivelmente não, “as intermitências da morte” que agora vive revelar-nos-ão esse destino. Já lá vai aproximadamente um século de vida Maria. Nunca tivémos uma relação aberta, nunca tivémos um carinho mútuo, ambos sabemos que é verdade. Nunca compreendi, desde que deixei de ser criança de onde vinha essa frieza, tamanho desapego, desprendimento, indiferença, enfim.. não o consigo descrever de forma sucinta. Sei que me percebe bem.
E o seu filho, que relação manteve com ele? Um século de vida Maria, e incrivelmente não deu sequer para construir uma amizade com nenhum de nós os três. Como é possível?! Várias vezes vos assisti a partilhar o mesmo espaço físico, a si e ao seu filho, e tão longe um do outro, culpa mútua? Talvez! Mas será que deu alguma abertura para uma aproximação? Acredite que o seu filho sofreu bastante com isso Maria. Eu não sofri directamente, não fui habituado por si a sofrer, passou-me ao lado se quer que lhe seja honesto, mas sofri pelo seu filho, sofri por saber o quanto lhe custou, e como nunca o soube exprimir, e sabe uma coisa Maria? Ainda hoje ele não o sabe fazer, não o sabe fazer comigo, não o sabe fazer com a sua nora, não o sabe fazer com o mundo… Mas acredite Maria muita coisa ficará lá dentro para lhe dizer, mas também só ele lhe poderá responder a isto.
Que final de século penoso por que passa agora Maria, agonizante o final da sua vida Maria. Para si creio que pouco, já pouco percebo por onde andam esses pensamentos, essa consciência. Para os outros, que assistem, devo dizer-lhe que o é bastante.
Maria, desde há alguns meses a esta parte, talvez desde que tomou consciência que a sua jornada neste mundo estaria perto do fim, que vejo que mudou, ou como costumo dizer, envelheceu… aproximou-se de nós, diz-nos que quer ir para junto de nós, que quer morrer ao pé de nós. Tantas vezes fala no meu nome Maria, e tem consciência agora que estou longe, físicamente estou longe, sabe que não posso estar do seu lado, acredite que se pudesse estaria concerteza, não por amor Maria, sabemos bem que nunca o construímos juntos, talvez direi por complacência, por respeito, por solidariedade. Com o seu o filho, reparei numa estranha forma de aproximação, quer da sua, quer da parte dele, parece que se reconciliaram, saiba que ele ficou feliz por senti-lo, e que nós emocionalmente mais longe de si, também ficámos, principalmente por ele, mas também por si. Foi gratificante para todos ver o seu filho beijá-la Maria. Se pudesse perguntava-lhe o que sentiu com aquele beijo? A ele não lhe perguntarei certamente, vou deixar esse vosso beijo só para vocês, mas posso confessar-lhe Maria, que tenho curiosidade. Mas ambos sabemos porém, que ele não me ía saber explicar, não se ía saber exprimir, iría utilizar aquela carapaça feita de uma racionalidade fria que lhe ensinou a usar desde pequeno para balbuciar qualquer coisa que se assemelhe a um sentimento de reconciliação. É gratificante ver que o seu filho já se aproxima de si, da cama onde agora, impávida e serenamente como se de uma outra Maria se tratasse, espera pela sua hora. Sabe bem senti-lo, sentir-nos a nós os três, não sabe Maria?! Um século Maria, e só no fim é que se revelaram sentimentos. Um século Maria, para aprender que o tempo não volta para trás, que o passado é passado e é inatingível. Porquê tanto tempo Maria? Tudo podia ter sido tão diferente.
Asseguro-lhe agora que parte, que pode ir em paz consigo, connosco, com o mundo, por nós garanto-lhe do fundo do coração que está perdoada, vá descansada, acredite em mim. Quando fechar os olhos pela última vez, esteja de coração tranquilo, acredite por favor que por cá guardar-se-á a imagem da Maria dos últimos meses. Acredite também que nos deu uma grande lição de vida com o seu século de existência Maria, ensinou-nos que o tempo não volta mesmo para trás!!!
Agora descanse Maria, já é tempo…
Até sempre!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A insustentável solidão do ser !


Há algumas semanas li e reli várias vezes uma crónica com a qual não pude deixar de me retratar. Em primeiro lugar, e não querendo tomar com isto demasiada água benta, presunção ou coisa do género, mas o que é facto é que me identifico bastante com o autor em questão na sua escrita e naquilo que transparece como pessoa. Em segundo lugar porque a reciprocidade de sentimentos perante a vida é claramente notória, indo aquele precisamente ao encontro dos meus conceitos, princípios e principalmente na sua maneira de ser, ou vice-versa pela regra lógica de idades e experiências de vida em questão.

Depois de me permitir esta breve epígrafe, retomo o assunto que me traz aqui, a tal insustentável solidão do “meu” ser, neste caso. Como li nessa crónica que supra cito e fazendo minhas as palavras do autor, revejo-me tal como ele, num tipo de “bicho do mato”, não no sentido depreciativo do cliché em si, mas sinceramente não tenho, como é meu apanágio dizer, “muita pachorra”, passo a expressão, para as pessoas. Não sou de todo uma pessoa sociável, e as multidões atrapalham um pouco o “meu mundo”, palavra de honra que os aglomerados de pessoas impedem-me de viver no meu espaço, de certa forma trancam-me a fluência do raciocínio. Desde há um tempo a esta parte que me habituei a viver sozinho, não tomando a frase no seu sentido literal, nem a parte pelo todo. Já algumas vezes fui “acusado” por pessoas que comigo coabitaram de estar, ou ser ausente, ou melhor dizendo, de viver insistentemente fechado no meu mundo. Curioso é que, palavras desse mesmo autor numa dada entrevista televisiva a certa altura, dizia que, a sua mulher viva com um morto em casa, curiosa a metáfora! Na altura sorri, compreendi e talvez por instantes me tivesse olhado de fora, como se fosse eu “a mulher do morto”. Achei sinistra a imagem mas não pude deixar de a ratificar no que diz respeito à minha pessoa. Não sei se por vicissitudes da vida, se por defeito ou feitio, o que é certo é que me tornei numa pessoa intransigentemente selectiva com aqueles que me rodeiam. Cada vez mais coloco as pessoas no grupo do “vamos lá tomar um café”, café esse que faço muitas vezes por apressar pois o tema de conversa não se coaduna muito com a minha maneira de ser ou de estar na vida. De poucas coisas, ditas de ocasião, sei falar, e frugalidade nas pessoas hoje em dia não é qualidade que abunde por aí diga-se de passagem, o que torna os meus diálogos irritavelmente monossilábicos da minha parte. Não tenho de todo jeito para fazer “sala” e acho que acabo por ser transparente demais chegando por vezes a roçar o desagradável quando a dita “pachorra” começa a escassear. Mea culpa, admito! A versatilidade é uma coisa que admiro especialmente nas pessoas e vejo-me obrigado a reconhecer que não é uma característica predominante da minha pessoa nestas situações. Não querendo cair no plágio novamente, até porque não se sei se alguém da SPA é leitor assíduo deste blog, devo dizer porém que gostaria de aprender a ser um pouco mais sociável, já nem pedia muito, mas alargar um pouco a margem de manobra “do café social” pelo menos ajudaria certamente! Posto isto surgem-me inevitavelmente alguns problemas na relações a vários níveis que mantenho com as pessoas. Em primeiro lugar, a vontade de conhecer novas pessoas e descobrir o seu conteúdo vai notoriamente diminuindo, as amizades que conquistei até hoje, são poucas mas sólidas, interessantes, e no meu ponto de vista saudáveis de parte a parte, têm a mais-valia necessária às duas partes, acrescentam algo aos intervenientes. Logo a minha abertura de espírito a priori não será a mais adequada para novos investimentos a esse nível. Em segundo lugar, aprendi a contar apenas comigo, estou sempre à espera da altura em que tenho de colocar as pessoas para o tão famigerado grupo do “cafézinho social”. Não serão certamente todos os outros que estarão errados, felizmente que também se reconhece por aqui com alguma lucidez, algo alegoricamente do género “Velho do Restelo”!!Como diria Pedro Paixão no seu livro, “Viver todos os dias cansa”!
E eu, nesta minha maneira de ser não posso deixar de concordar em absoluto…

domingo, 27 de abril de 2008

25 de Abril ... até Sempre !!



Hoje é dia 25 de Abril, faz 34 anos que se deu a Revolução dos Capitães. Não foi um acontecimento por mim vivido, contudo, desde pequeno me foi incutido o seu propósito, a sua função, a sua necessidade. Posso dizer que sou bastante politizado, já me deixei de partidarismos há algum tempo, deixei de votar, deixei de tomar uma posição politicamente activa neste país. A razão desta minha decisão passa por motivos pessoais e profissionais. Não me consigo identificar por muito que me esforce, e palavra de honra que me esforço, com esta mentalidade, com este fio condutor sem objectivo, sem projecto, sem estrutura.
Neste momento enquanto escrevo este post assisto ao programa da RTP1 "Vozes de Abril", relembro alguns episódios que me foram relatados pela geração nascida nas décadas de 40 e de 50. Compreendo-as, sinto-as, para mim têm significado, têm sentido. O que se passou a 25 de Abril de 1974, não passou de uma utopia, de um sonho que nunca chegou a ser realidade por motivos capitalistas, por motivos que nos ultrapassam a todos.Várias vezes no programa foi referido que fulano tal, não pode comparecer na cerimónia por motivos de saúde, que é feito deles?! Que será feito do 25 de Abril quando eles nos deixarem?! A minha geração pouco se importa, para eles é única e exclusivamente um dia em que não há escola, não se trabalha e que por sinal até deu para aproveitar um belo dia de praia. Não quero aqui ser um defensor de manifestações políticas ou de qualquer outra coisa do género, mas confesso que gostava que se pensasse num rumo a seguir, no significado deste dia. Não sou um adepto da frase "25 de Abril SEMPRE!!". Insofismavelmente já faço parto da geração em que o SEMPRE pouco sentido intrínseco terá para mim, contudo não deixo de a conseguir compreender, muito por culpa da educação. A minha família sofreu com o antigo regime, alguns morreram simplesmente porque tinham outras ideologias políticas. Muitas vezes penso que se vivesse nessa época talvez fizesse parte dos nomes que listam no livro "Tarrafal" por exemplo. Contudo os que me conhecem sabem que vivo ferverosamente esta data, caem-me lágrimas quando oiço certas músicas, quando oiço certos poemas ou quando vejo certas imagens. Assisti ao programa da RTP de uma varanda na casa de um casal amigo, disfrutando de uma bela de noite primaveril, por momentos olhava para as pessoas que passavam na rua rumo ao centro da vila, passando indiferentes ao que se celebrava ou relembrava, se preferirem. Confesso que me fez alguma confusão, não porque não estivessem a assistir ao programa, isso pouco me importa, é uma decisão pessoal, mas porque se sente e percebe que naquelas mentes este assunto não interessa, aquelas pessoas nem sequer pensam que se não fossem aquelas pessoas naquele dia a tomar tal decisão de "acabar com o estado a que isto chegou" talvez hoje não tivessem a hipótese de levar e disfrutar da vida com as regalias que usufruem. Como dizia o agora Coronel Santos Silva que na altura tomou o RCP e que passo a citar, "o número de cabelos brancos que se vêem nesta plateia é uma homenagem que o tempo nos faz..."
O 25 de Abril por certo desvanecer-se-á no tempo, passará a ser mais uma data que apenas estará escrita nos livros de história do Secundário, para ser citado ou transcrito num qualquer teste de um qualquer período escolar. Sinceramente tenho pena, os valores que surgiram e que movimentaram aqueles homens, serão por certo por mim transmitidos a quem comigo se cruzar na vida, não em conversa de café, nem tão pouco a quem apenas passar por mim somente por uma “estação”, mas sim a quem comigo conviver, a quem comigo partilhar momentos com uma certa concistência, a quem eu sentir que vale a pena.
Não vou dizer 25 de Abril SEMPRE, mas direi certamente, 25 de Abril não me esquecerei.
"Eu sou português aqui
em terra e fome talhado,
feito de barro e carvão,
rasgado pelo vento norte,
amante certo da morte
no silêncio da agressão.

Eu sou português aqui
mas nascido deste lado,
do lado de cá da vida,
do lado do sofrimento,
da miséria repetida,
do pé descalço, do vento.

Nasci deste lado da cidade
nesta margem,
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.

Eu sou português aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil, no gozo,
no sorriso doloroso,
no gingar dum marinheiro.

Nasci deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura,
da anedota, do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.

Eu sou português aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.

Nasci aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.

Nasci aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.

Eu sou a festa inacabada,
quase ausente,
eu sou a briga,
a luta antiga
renovada
ainda urgente.

Eu sou português aqui
o português sem mestre
mas com jeito.

Eu sou português aqui
e trago o mês de Abril
a voar dentro do peito."

José Fanha

domingo, 23 de março de 2008

O que é feito da Escola?!



Tive hoje a oportunidade de assistir a um vídeo que me foi dado a conhecer por um amigo que, por sinal, é também um comentador assíduo deste blog, ao que sei e cito-o “é a última coisa cá da pátria!”. O vídeo filmado, ao que parece por um telemóvel de um aluno que estava presente numa sala de aula (o que ainda me indigna mais é este tipo de cooperativismo e passividade dos alunos presentes) de uma escola central do Porto e ao que consta de um liceu histórico da cidade, diz respeito a uma pretensa apreenção de um telemóvel de uma aluna por parte da docente, creio que, por uso indevido ou inapropriado durante a aula.
Entre comentários trocados à dita cena execrável, dois pontos de vista surgiram na conversa, a condenção do acto da aluna e a condenação do acto da professora.
A pessoa em questão condena mais a atitude da docente por ter apreendido algo que não era seu mas sim da aluna, argumentando que, tal facto não seria de todo legal nem corresponderia a uma conduta pedagógica de uma docente à altura da situação. Não consigo corroborar totalmente esta ideia, embora não possa deixar de concordar com o argumento da apropriação indevida do dito aparelho. Concordo que a solução do caso passaria por uma expulsão da aluna da aula com as normais notificações, ao concelho directivo e/ou encarregados de educação, e penalizações inerentes. No entanto, na minha opinião condeno muito mais veemente a atitude da aluna do que da docente. Os docentes são formadores e não “deformadores” dos alunos, portanto têm que forçosamente dar um exemplo de conduta, porém a educação social, se é que assim se pode chamar é sem dúvida um papel dos pais. Ora neste caso o que se observa notoriamente é uma falta de educação e um desrespeito de uma aluna por uma professora muito mais do que uma simples quezília entre pró-formas gerais de relação professor/aluno.
No meio desta história que começa a perder infelizmente os traços de surrealismo e de episódio isolado em Portugal, cabe-me salientar a horrível inoperância e passividade dos colegas, que assistem e incentivam a violência regozijando-se com a fragilidade e impotência da professora.
Na conversa foi-me também confrontado o argumento de que a professora teria pecado ao entrar no confronto físico, pois teria assim descido ao nível da aluna e que quando isso acontece essa descida tem de ser muito bem ponderada, neste aspecto concordo também. Como digo acima os professores têm de ser além de formadores técnicos acima de tudo, salientando mais uma vez que essa formação passa por uma educação direccionada para a vida laboral activa e não para a conduta social dos alunos, essa é o papel dos pais.
Esta é a situação que se vive em Portugal, o ensino não funciona, e não estou a tomar o todo pela parte. Há sem dúvida uma negligência do papel educacional dos pais, seja por falta de tempo, por falta de paciência, por falta de valores para transmitir aos filhos, por excesso de exigência no horário laboral associado a uma instabilidade, na maior parte dos casos, do mesmo. O que é certo é que hoje a quantidade vingou em relação à qualidade, os fins têm de ser atingidos sem olhar a meios, a educação cedeu o lugar à deseducação, ao desrespeito e ao “mimo caprichado”. Para os governos os números de literacia têm de ser atingidos perante a UE, para os pais, os filhos têm de ser licenciados para ostentarem o título de doutores, os valores ético-sócio-morais foram trocados pelos prémios materiais independentemente do sucesso ou insucesso da vida académica do aluno. Pois o resultado está à vista! O professores, são-no por falta de opções laborais ou mesmo porque não sabem muito bem com 18 anos que curso irão tirar para poderem ostentar o supracitado título de licenciados. Falta uma atitude em quase todos os campos da sociedade civil, falta uma postura, falta uma idoneidade e falta principalmente uma linha condutora para os que vão ser a geração orientadora de futuro de Portugal.
Pelo que sei, esta docente não apresentou queixa às instâncias devidas. Não sei sequer se houve ou não repreensão por parte dos pais da aluna à mesma, talvez até não! Este é um caso do Portugal real que vai acabar por “morrer no esquecimento” da opinião pública.
Não vou entrar em campos que não são do meu conhecimento, como os trâmites processuais a seguir dentro do Conselho Directivo ou Pedagógico da Escola, do Ministério da Educação, ou da DREN. Esta é uma crítica ao estado da Educação em Portugal no que diz respeito à “Instituição Escola”, que, como alguém dizia um dia destes foi uma das mais brilhantes invenções da Humanidade.
Não querendo plagiar nada nem ninguém,mas o que é certo é que assim se vai vivendo na Pólis!!

terça-feira, 4 de março de 2008

Pessoas e Culturas !!


Pela primeira vez na minha vida sinto aquilo a que se chama “ser emigrante”. Já passei por alguns países durante estes anos vividos, por vezes de férias, outras em trabalho, por um maior ou menor espaço de tempo. Sempre que mudo de país tento conhecer não os centros comerciais nem as “lojas da moda”, sinceramente pouco me importaram enquanto vivi no meu, muito menos me importarão enquanto vivo nos outros, até porque com o conceito alastrante da globalização as grandes metrópoles tornam-se “clones” uma das outras. O que procuro para me enriquecer como ser humano tanto cientificamente como culturalmente, para me dar o tão desejado “background” ou “know-how” são as pessoas, a cultura, os hábitos, enfim tudo aquilo que caracteriza o lugar para onde me desloco.
Neste momento posso considerar-me um “emigrante de luxo” a saber pelo que muitos portugueses passam para melhorar as suas condições de vida. Estou a realizar um projecto de futuro como desejava, não direi desde sempre, mas concerteza desde há algum tempo a esta parte. Neste momento encontro-me num país Europeu perfeitamente integrado no contexto político-sócio-económico como o meu, arrisco-me mesmo a dizer melhor do que o meu!! Contudo quando mudamos de país o choque cultural em maior ou menor escala é inevitável, e é isso que por vezes sentimos na pele nesta ou naquela situação, a barreira linguística para mim é sem dúvida o que faz a maior clivagem entre as civilizações, entre os povos e suas culturas, ela arrasta em si só uma etimologia que se estende muito para além da pura gramática. As palavras e os conceitos autóctones carregam em si um simbolismo que transcende a sintaxe e a semântica, traduz-se num modus vivendi, numa maneira especial de perceber e lidar com a realidade.
Apenas posso dizer que somos efectivamente “Filhos da Terra”, da nossa Terra, por muito que queiramos ou não, carregamos connosco aquilo a que em psicologia se designa por consciência social e essa consicência social conta muito quando se muda de país, razão pela qual a tendência natural dos nativos de determinado país, quando deslocados é a de formar comunidades quase impenetráveis a estranhos.
Não quero discutir aqui o carácter das pessoas, apenas posso concluir que há boas e más pessoas em todo o lado, contudo é mais difícil filtrar as boas, aquelas que realmente interessam quando nos encontramos deslocados, muitas atitudes tornam-se complexas de julgar de acordo com os nossos valores pessoais e culturais pois a linha que divide estes dois, para quem vê de fora mistura-se com muita facilidade.
O mundo precisa urgentemente de pessoas honestas, e de voltar a dar valor à já não do meu tempo “palavra de honra”, ao aperto de mão que sela acordos, ao conceito de vergonha, que hoje em dia foi ultrapassado pelo conceito de culpa judicial. Como diria alguém que me é bem próximo, os assuntos hoje em dia têm de ser tratados com uma formalidade do tipo "substantiva jurídica", deixando de lado os fait-divers morais. O problema é que eu ainda vivo no mundo com o conceito de vergonha e do “palavra de honra!” enquanto à minha volta reparo que as pessoas já vivem, e cada vez mais, na era da culpa jurídica.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Direita, esquerda ... volver!

Durante esta minha última breve passagem por terras lusitanas tive a oportunidade de privar num almoço com um grupo vernáculo de cinquentenários, sexagenários e septuagenários. Durante o dito almoço veio à conversa o tema Partido Socialista, onde um adepto ferveroso da esquerda me dizia que o dito partido faria parte do “centro” político do nosso país. A controvérsia começou quando afirmei que o PS não podia ser o “centro” político de Portugal. A política socialista não é por definição uma política centrista mas sim uma política esquerdista, contudo, e como é apanágio em Portugal cabe ao PS fazer esse papel, que diga-se de passagem fá-lo bastante mal, o grupo parlamentar em Portugal não tem nenhum partido que faça a charneira entre a esquerda e a direita parlamentar, se é que ainda se conseguem distinguir uma da outra. Ora, o PS tenta em Portugal “andar no fio da navalha” o que é bastante difícil e não está ao alcance de todos, quer ao nível pessoal, quer ao nível institucional (neste caso partidário). Entre argumentos e dialécticas Marxistas-Leninistas trocadas pelos dois, não consegui convencer o “camarada” desta minha posição. A política do dito partido aproxima-se de uma política de direita neste momento com umas leves tentativas de rectificação à esquerda. Está para mim mais perto de ser um partido centrista, embora de centro-direita o PSD do que o próprio PS que apenas revela incoerências ideológicas por parte das pessoas que o dirigem. É que com o PS os portugueses nunca sabem com o que contam, se a política tende para um lado ou para o outro desse mesmo fio da navalha. O PS tenta fazer o papel de moderador de debates tipo Miguel Sousa Tavares e Constança Cunha e Sá ora personificando o carácter de um, ora de outro. Falta uma ideologia, falta uma liderança, falta um conhecimento da tal dialéctica esquerdista, falta um socialismo.
Já sei que este post vai gerar polémica aqui na blogosfera, por parte de alguns leitores atentos e com imparcialidade duvidosa. O dito e ilustre “camarada” não é comentador por estas bandas, mas sei que a ideia lhe vai chegar às mãos, ficarei à espera do seu comentário pessoal.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Sou, logo existo ou … existo, logo sou?


Há já algum tempo que esta pergunta me perturba, o que somos? Não vou dizer que somos apenas “cadáveres adiados que procriam” até porque acho bastante redutora a imagem, embora tire sem dúvida o chapéu a quem a proferiu. Sugeriu-me um grande amigo, uma teoria interessante aquando numa bela “sabatinada filosófica” me disse que não somos mais do que aquilo que deixamos nos outros. Na altura concordei com a “pomposa sentença niilista-activa” curta e que me pareceu bastante assertiva. Nos últimos tempos, esta ideia tem-me assaltado o pensamento de uma forma recorrente. Certo é que, não consigo refutar por completo a dita sentença, contudo ao tentar esmiuçar esse pensamento outras definições que me parecem mais apropriadas me têm surgido. O que são os corpos já cadáveres que nas aulas vou explorando, investigando minuciosamente até ao mais ínfimo pormenor, tirando e repondo as carapaças musculares que cobrem fibras nervosas, tendões, ossos, etc.? A primeira coisa que me ocorre quando olho aqueles corpos que um dia foram “pessoas” é a Teoria Kantiana expressa no livro “Crítica da razão pura”, onde o autor diz que tirando, as cores, os cheiros, a forma, o peso, a textura, etc, o que sobra é tão somente o espaço que as coisas ocupam. Pois em parte é isso que sobra de nós, há quem lhe chame alma, os cienficistas chamar-lhe-ão vapor de água que pesa aproximadamente vinte e poucas gramas, os religiosos chamar-lhe-ão espírito e há quem lhe chame o espaço que a pessoa ocupa! É neste ponto que me vejo obrigado a concordar com a dita expressão dada por esse amigo. É que quando olho aqueles corpos que um dia já foram definidos como “pessoas” e tirando deles o cheiro, a cor, o peso, a textura, a expressão, etc, isto é desumanizando ou se preferimos desmaterializando a coisa, há dois espaços sem dúvida que eles ocupam. Um será obviamente o espaço que ocupam na mesa ali mesmo à minha frente, e esse para mim será desprezável, não é propriamente o motivo que aqui me traz a escrever este post, é sim o outro espaço que será “aquilo que deixamos nos outros”. Concluo portanto que aquilo que deixamos nos outros não será mais do que um espaço que ainda não consegui conceptualizar. Ora, se as experiências criam memórias, as memórias encadeiam-se e criam os pensamentos que por sua vez encadeados geram o raciocínio, atinjo então o ponto fulcral da questão. Onde é que fica o espaço que os outros ocupam em nós? Será nas experiências, nas memórias, nos pensamentos ou no próprio raciocínio. É que, enquanto existir alguém no mundo que usufrua do que outrem lhe passou por estes meios que cito, esse outrem continuará vivo, logo, quando vejo aqueles corpos não hesito em tratá-los como se de alguém vivo se tratasse, pois partindo do pressuposto de que nos abandonaram há pouco tempo, certamente haverá alguém no mundo onde eles ainda ocupam algum tipo de espaço. Como alguém dizia “se te queres tornar imortal, escreve um livro...”. A partir desta suposição, sou obrigado a concluir que esse espaço terá de ser racionalmente gerido por nós próprios, eliminado aqueles que em nós não merecem de todo o espaço que ocupam e aproveitando dos outros a máxima capacidade de “empacotamento” que possuímos, pois esse espaço como qualquer outro não será ilimitado. Há pessoas que mesmo com breves passagens na nossa vida nos ocupam um espaço tremendo, a essas chamar-lhes-ei sábias, às outras que não nos deixam nada de novo, chamar-lhes-ei “erros de casting”. Talvez este espaço de armazenamento de informação descentralizado a que chamam Internet (que aliás já foi posto em causa a sua viabilidade na capacidade de armazenamento de informação num futuro próximo, pela multinacional Nemertes Research Group) me permita viver para além da minha vida física se assim lhe quisermos chamar.
Não posso terminar este post, sem deixar de agradecer a uma amiga muito especial que se vai tornando uma assídua ouvinte deste tipo de monólogos onde tento chegar a algumas conclusões da vida, para ela sem dúvida um muito obrigado, é que parecendo que não, pensar em voz alta ajuda bastante!

P.S. – Espero sinceramente que este post mereça o espaço que ele ocupa...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Médicos versus memorizadores de livros

Na passada sexta-feira chegou-me a notícia, via Internet (mais propriamente via messenger) que um colega tinha nessa tarde, conseguido vencer o “Adamastor” do curso de medicina, o exame de anatomia, vitória conseguida à quarta tentativa, confirmação esta posteriormente dada pelo próprio. Ao que parece, para se obter tal sucesso neste exame é exigido por parte do departamento da disciplina uma extrema capacidade de “empinar”, passo a expressão, dois livros de anatomia, perfazendo assim aproximadamente 1700 páginas, sendo a dita bibliografia composta por um atlas pictográfico e um outro livro de anatomofisiologia descritiva. O dito exame é composto por duas partes, uma “escrita”, mais propriamente um interface aluno computador, composta por 16 perguntas de escolha múltipla das quais é necessário acertar 12 no mínimo para o aluno garantir a passagem à segunda fase do dito exame, desta feita, a talvez ainda mais temida “prova oral”. Devo salientar que, na parte escrita são dados aos alunos 16 minutos para a completar, o que perfaz uma média de 1 minuto por pergunta. Resumindo, o supracitado atlas, mais apropriado para responder neste caso à primeira parte do exame tem de estar em memória tipicamente binária, qual o adversário Pentium de, especulação minha, duplo processador. Este duelo, faz lembrar o tão mediático encontro Kasparov vs IBM's Deep Blue Supercomputer, da década de 90.
É perfeitamente lógico que para a futura profissão de médico, a anatomia tenha de estar bem presente na memória do profissional, não seria possível a ninguém executar com qualidade uma profissão sem conhecer o seu “conteúdo”. Contudo, e perante esta exigência/metodologia de avaliação, uma simples questão automaticamente também ela do “tipo linguagem binária de processamento rápido” me invade o pensamento, o que é um médico?! Pergunta esta que nos dias que correm me é extremamente difícil responder. Será sem dúvida um privilégio sócio-económico adquirido por uma grande maioria de profissionais da classe, que desrespeitam os que “pacientemente” esperam por ser atendidos. Por um lado, temos o sector público que pelo menos em Portugal está decadente, a espera não será tão somente pelo protagonismo que a classe tem na sociedade mas também, como nos temos apercebido pela falta de meios logísticos para a rápida observação do doente. Por outro lado, no sector privado assistimos a uma “pequena” melhoria na qualidade do serviço que, não sendo a minha intenção especular ou fazer juízos de valor generalistas, é colmatada pelo aspecto monetário per capita que é auferido pelo médico, contudo, não muda a perspectiva de muitos profissionais que ao chegarem sistematicamente atrasados aos seus consultórios privados nem um pedido de desculpa se acham no dever de dar aos seus doentes, estes que, por infelicidade própria contribuem para o dito estatuto sócio-económico daqueles.
Passando este devaneio, cabe-me voltar ao assunto que me leva a escrever este post, qual será o melhor médico?! Aquele que possui um “disco rígido” com alguns Gigabyte livres, ou aquele que através de um conhecimento dito satisfatório do ponto de vista avaliativo, gere a relação entre o que eticamente deve ser executado em prol do doente não esquecendo porém que de um ser humano se trata. É que, pelo que me é dado a ver, em vários pontos do mundo, e não querendo comparar qualidades ou métodos de ensino, onde para se ser médico tem de se conseguir uma média escolar de aproximadamente 18 valores no ensino secundário, um aluno tem de ser não mais do que um "memorizador" de livros. Após um percurso académico de 10 anos no qual se inclui uma licenciatura na área da medicina, deparo-me com uma situação caricata, quando numa determinada aula, sublinhando no entanto a grande qualidade do professor tanto como orador como no aspecto científico, lhe faço uma pergunta que cito “Qual é o conceito de saúde?”, resposta também que passo a citar e proferida com um sorriso nos lábios notório de quem percebeu claramente o sentido da minha intervenção “Não lhe sei responder a essa pergunta”...

A Joint Venture dos casais


Há já algum tempo que me foi enviado por email um texto do Miguel Esteves Cardoso intitulado "Elogio ao amor", que segundo o que consta foi publicado no Jornal Expresso, não posso deixar de o "postar" aqui também, esta é uma transcrição na íntegra do que me chegou.

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso in Expresso

P.S. - Sem dúvida uma descrição bastante assertiva nos dias que correm.

Prólogo

O propósito deste blog é tecer algumas reflexões sobre as várias situações da vida que se nos apresentam, trocar conceitos e experiências dos utilizadores deste espaço a que alguns chamam "blogoesfera". Para uns é um "diário pessoal/público", para outros uma ponte entre as suas famílias e amigos com os quais muitas vezes a distância não permite uma relação mais assídua.
Para mim, será talvez um espaço que criei para desabafos, para reflexões com amigos, pois incluo-me naqueles cuja distância não permite estar perto dos que amo...
Desde já agradeço a participação de quem, com o seu testemunho, opiniões, reflexões,etc, ajude e permita a continuidade e dinamismo deste espaço.

"Esta vida é uma estranha hospedaria,
de onde se parte quase sempre às tontas,
pois nunca as nossas malas estão prontas,
e a nossa conta nunca está em dia."
Mário Quintana 30/07/1906 a 05/05/1994