terça-feira, 4 de março de 2008

Pessoas e Culturas !!


Pela primeira vez na minha vida sinto aquilo a que se chama “ser emigrante”. Já passei por alguns países durante estes anos vividos, por vezes de férias, outras em trabalho, por um maior ou menor espaço de tempo. Sempre que mudo de país tento conhecer não os centros comerciais nem as “lojas da moda”, sinceramente pouco me importaram enquanto vivi no meu, muito menos me importarão enquanto vivo nos outros, até porque com o conceito alastrante da globalização as grandes metrópoles tornam-se “clones” uma das outras. O que procuro para me enriquecer como ser humano tanto cientificamente como culturalmente, para me dar o tão desejado “background” ou “know-how” são as pessoas, a cultura, os hábitos, enfim tudo aquilo que caracteriza o lugar para onde me desloco.
Neste momento posso considerar-me um “emigrante de luxo” a saber pelo que muitos portugueses passam para melhorar as suas condições de vida. Estou a realizar um projecto de futuro como desejava, não direi desde sempre, mas concerteza desde há algum tempo a esta parte. Neste momento encontro-me num país Europeu perfeitamente integrado no contexto político-sócio-económico como o meu, arrisco-me mesmo a dizer melhor do que o meu!! Contudo quando mudamos de país o choque cultural em maior ou menor escala é inevitável, e é isso que por vezes sentimos na pele nesta ou naquela situação, a barreira linguística para mim é sem dúvida o que faz a maior clivagem entre as civilizações, entre os povos e suas culturas, ela arrasta em si só uma etimologia que se estende muito para além da pura gramática. As palavras e os conceitos autóctones carregam em si um simbolismo que transcende a sintaxe e a semântica, traduz-se num modus vivendi, numa maneira especial de perceber e lidar com a realidade.
Apenas posso dizer que somos efectivamente “Filhos da Terra”, da nossa Terra, por muito que queiramos ou não, carregamos connosco aquilo a que em psicologia se designa por consciência social e essa consicência social conta muito quando se muda de país, razão pela qual a tendência natural dos nativos de determinado país, quando deslocados é a de formar comunidades quase impenetráveis a estranhos.
Não quero discutir aqui o carácter das pessoas, apenas posso concluir que há boas e más pessoas em todo o lado, contudo é mais difícil filtrar as boas, aquelas que realmente interessam quando nos encontramos deslocados, muitas atitudes tornam-se complexas de julgar de acordo com os nossos valores pessoais e culturais pois a linha que divide estes dois, para quem vê de fora mistura-se com muita facilidade.
O mundo precisa urgentemente de pessoas honestas, e de voltar a dar valor à já não do meu tempo “palavra de honra”, ao aperto de mão que sela acordos, ao conceito de vergonha, que hoje em dia foi ultrapassado pelo conceito de culpa judicial. Como diria alguém que me é bem próximo, os assuntos hoje em dia têm de ser tratados com uma formalidade do tipo "substantiva jurídica", deixando de lado os fait-divers morais. O problema é que eu ainda vivo no mundo com o conceito de vergonha e do “palavra de honra!” enquanto à minha volta reparo que as pessoas já vivem, e cada vez mais, na era da culpa jurídica.

8 comentários:

Anónimo disse...

...Tu és um filho do Universo e, tal como as árvores e as estrelas tens o direito de o habitar. E quer isto seja ou não claro para ti, sem dúvida que o Universo é-te disto revelador. Portanto vive em paz com Deus, seja qual for a ideia que Dele tiveres. E quaisquer que sejam as tuas lutas e aspirações, na ruidosa confusão da vida, conserva-te em paz com a tua alma. Com toda a sua falsidade, escravidão e sonhos desfeitos, o mundo é ainda maravilhoso. S~E cauteloso! Luta para seres Feliz....

Uchideshi disse...

Caro anónimo,
Conheço bastante bem o poema que me enviou, faz parte de algumas das minhas lições de vida pessoais.
Mantermo-nos em paz com a nossa alma é muitas vezes difícil, como alguém dizia "viver não custa o que custa é saber viver." Quanto ao facto do mundo ser ainda maravilhoso, concordo em pleno, realmente a "estrutura" está muito bem montada e dotada de um perfeccionismo no mínimo extraordinário, no que diz respeito aos seus habitantes torno-me cada vez mais um céptico acérrimo...

Anónimo disse...

Construa o seu pequeno MUNDO. Ainda HÁ PESSOAS BOAS, muitas menos que "boas pessoas", mas há. Temos de usar um filtro e para cada caso, cada filtro...
Confie na vida caro amigo. Os valores ultrapassam fronteiras e gerações. Como costumo dizer, as pessoas não mudam... as pessoas revelam-se. Mas é ainda muito novo e há muito a aprender...A vida é ganhar e perder...

Uchideshi disse...

Caro anónimo,
O meu pequeno mundo já eu o construí há algum tempo, o problema é que me tenho visto obrigado a reduzi-lo cada vez mais. Que ainda há gente de boa índole, pois não duvido, mas a percentagem tem-se revelado extremamente baixa de acordo com a minha vivência, que como diz ainda é curta. O que me preocupa ainda mais é que a têndencia percentual com o passar dos anos penso será descrescente.
Talvez o meu perfeccionismo em várias domínios seja um forte handicap, pois como sabe sou bastante exigente comigo e com os outros, e nestes talvez não existam muitos dispostos a que lhes sejam exigidas sentimentos, atitudes, valores, "palavras de honra" e por aí fora...

Politikos disse...

Caro Uchideshi
Percebo-o bem. Acredite, porém, que conviver com diferentes tipos de pessoas e perdoar certas fraquezas humanas e os defeitos dos outros faz parte do nosso próprio crescimento interior. Há um momento em que percebemos que o ser humano não é, nem será perfeito, não é, nem será feito à imagem do ideal que nós temos para ele, e é nesse momento que deixamos de procurar a utopia do homem ideal e aceitamos o outro tal como ele é.
Grande abraço

Uchideshi disse...

Caro Politikos,
É certo e muito sensato o que me diz, contudo não consigo tolerar faltas de honestidade e seriedade. O bom senso é claro discutível, e esse pode ser perdoado, pois depende das circunstâncias e é sempre uma acção ou reacção do foro subjectivo. Como tal não penso que caberá a ninguém fazer juízos de valor sobre o que vai dentro ou o que levou pessoa X ou Y a tomar determinada atitude. Mas como lhe digo no que diz respeito a matéria de princípios como os que lhe falo, sou muito intransigente. Talvez me caiba a mim crescer um pouco mais ;)
Grande Abraço

Anónimo disse...

Talvez tenha de sofrer mais, o que não tem nada a ver com "crescimento". Esse pelo que me dá a conhecer está completo. Mas se quer continuar a acreditar em "fadas" ...sofra q'Abraão também sobreu....

Uchideshi disse...

Caro anónimo,
Não se trata de acreditar em fadas ou não, nunca fui um assíduo leitor desses livros. Quanto ao sofrer, pois penso que um dia terá, não direi de acabar mas será minorizado pela própria idade, é que pelo que sei a vida a partir dos quarenta deixa de ser "a somar" passando a ser "a subtrair", e aí sim a necessidade de relativizar as coisas vai ter de se impor.
Agora sem dúvida que é um facto que os alicerces da minha personalidade estão criados e a emoção/ilusão/romantismo fazem bem parte deles. A ver vamos para onde me dirige a vida, ou a experiência se assim lhe quiser chamar!