terça-feira, 8 de julho de 2008

O tempo, a experiência.


São agora algumas horas da manhã, o sono, esse teima em não vir. Encontro-me de férias (se assim o poderei definir) no meu país natal. Fazendo uma retrospectiva de mais um ano passado, chego à conclusão que, no que diz respeito a conhecimentos de cariz científico, pouco aprendi de novo, penso que esses ainda estarão para vir a sério com a evolução do meu percurso académico. Em matéria de experiência pessoal, posso dizer que foi tremendamente proveitoso, superando mesmo a meu ver, talvez uma década de vivência neste país.
Como alguém me dizia há algum tempo, “a experiência é aquilo que adquirimos quando já não precisamos dela”, não posso hoje em dia deixar de refutar esta ideia. A experiência que fui adquirindo ao longo destes ainda poucos anos de vida ajudou-me bastante a vários níveis posso dizer, não só ao nível científico, mas sobretudo ao nível social e humano. A forma como olho as pessoas, a vida, os lugares, etc, mostra-se tão diferente daqueles com quem mais perto lido, talvez seja a idade que marca a diferença, talvez a idade nos dê outros olhos para olhar as coisas, ou talvez seja, e esta penso ser o mais plausível dos argumentos, a lucidez de espírito para relativizar os problemas, o poder dedutivo das memórias que encadeadas geram essa mesma experiência. Terei conseguido algum sucesso graças a tudo isto? Penso que sim, impreterivelmente, os bons e maus momentos que passei na vida e que sem dúvida fazem de mim o que sou hoje ajudaram-me a lidar com algumas situações de forma lógica e racional, pus de parte muitas vezes a emoção, e controlei o desespero. É a isso que se chama experiência? Talvez, pouco importa como é definido este conceito, o que interessa foi a maneira como inevitavelmente e talvez até inconscientemente o “importei” do meu passado para o meu uso pessoal no presente.
Olho para trás e digo para mim mesmo já passou mais um ano! Que fugaz, a vida torna-se efémera quando contabilizamos o tempo passado, foram aproximadamente doze meses, multiplicados por uma média de trinta dias parecem uma eternidade, não contabilizando horas, minutos nem segundos. Quando olhamos para o futuro temos por hábito mesmo que inconscientemente contabilizá-los o que torna aparentemente tudo muito mais longínquo, ao invés, quando olhamos para trás temos sempre a sensação que isto ou aquilo que se passou foi ontem, são-nos clarividentes na mente até os detalhes de um determinado dia. Será esta também uma das características da relatividade do tempo? Chego à conclusão que o tempo é assertivamente relativo na nossa mente, tornamo-lo assim. O futuro demora a chegar, enquanto o passado parece aqui tão perto, e nos entretantos, o tempo voou, parece que encurtou. Há quem defenda a tese que diz que se pararmos o tempo a realidade deixa de ter três dimensões e passa a ter duas, tudo fica reduzido a planos. Será essa a concepção que o nosso cérebro faz do tempo? Sem dúvida que os planos têm menos volume do que os corpos a três dimensões, e isso encurtará também o tempo?
Pondo um pouco de lado estes caprichos da imaginação e voltando ao que me traz a escrever este post, por entre o fumo do cigarro que se vai desenhando no ar, iluminado pela luz do candeeiro da rua que neste momento me entra pela janela, volto à “vantagem” da experiência, da adquirida e da que virei ainda a adquirir. Ser-me-á útil sem dúvida nos percursos cambiantes dos tempos que ainda me esperam. Durante este ano foi-me notório que a experiência é uma mais-valia enorme na vida de uma pessoa. Aquela experiência que não pode ser alcançada pelos livros, que ninguém dá palestras ou faz congressos sobre ela, aquela experiência que dá o tal “posto” à idade e que infelizmente a meu ver cada vez mais se vai perdendo. Andam por aí pessoas com experiência, anónimos que nunca ousaram sequer pensar numa condecoração que hoje se dá a preço muito baixo do tipo Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, anónimos que por vezes não sabem sequer ler nem escrever, mas que ensinam a quem estiver disposto a ouvir, fazem o papel de Professores sem ostentarem tal título, sem nunca lhes ser reconhecido esse valor social. E como tantas vezes já vi eu “fintarem” tão bem alguns doutores e engenheiros deste país, mesmo quando estes se encontram no seu domínio científico. Há uma coisa que ensina muito mais do que qualquer livro, do que qualquer faculdade, do que qualquer mente brilhante, a essa chamo-lhe vida e com ela, se for vista com olhos de ver, se efectivamente passarmos por ela e não ela passar apenas por nós, vem a experiência.
Este ano principalmente aprendi que devo ouvir mais e falar menos.

8 comentários:

Anónimo disse...

Não é por acaso que temos dois ouvidos e uma só boca!!!

Politikos disse...

Caro Ush
Há um tempo para falar e um tempo para ouvir...
Haverá também um tempo em que perceberá - digo eu - que foi este país que lhe permitiu ir para o outro onde agora está... Um tempo haverá ainda em que este nosso país o recompensará mais do que esse outro onde está e mesmo se calhar mais do que qualquer outro...
Tome boa nota do dia em que lhe disse isto!
Boas férias que bem as merece

Uchideshi disse...

Caro Politikos,
Não querendo voltar a "bater na mesma tecla", até porque já conhece por demais o meu ponto de vista. Não foi o meu país que me proporcionou a emigração, foi o meu país que proporcionou até certo ponto, um "pai-trocínio" que me permite frequentar uma licenciatura desta envergadura e com os custos que lhe são inerentes. A mim o meu país recusou-me o acesso à dita licenciatura, a julgar pelos critérios, parece-me que não me confere inteligência ou capacidade para a frequentar. Regozijo-me porém, quando "lá fora" alguns professores, já aconteceu mais do que uma vez, me reconhecem valor dizendo-me inclusivé que sou um dos melhores dos seus alunos. Ora, posto isto, diga-me que motivações terei para voltar? Não direi certamente que não volto, a vida como sabe, dá muitas voltas e não sou apologista da frase "desta água não beberei". Mais lhe digo caro amigo, sabe perfeitamente que para exercer medicina há países bem mais atraentes do que este "à beira-mar plantado", já para não falar não qualidade de vida pessoal.
Quanto às férias, estou como o seu Sporting, a preparar a próxima época, não vou jogar a Liga dos Campeões, mas em Janeiro vou ter de passar pelo "Adamastor" do curso ;).
Grande abraço

Politikos disse...

Começamos a tornar-nos previsíveis nos postes e nos comentários, caro Uch. Por pontos:
1.º Vejo que afinal Vexa sempre reconhece que foi o seu país que lhe proporcionou essa «emigração de luxo» de que Vexa goza, se foi através dos seus pais é o menos, é sinal que o país deu essa hipótese aos seus pais; acha que os pais dos seus colegas desse país onde está teriam hipóteses de pagar aos filhos uma formação no estrangeiro, independentemente até da formação que tenham?!; fica a pergunta para sua meditação;
2.º O seu país não lhe deu acesso a essa licenciatura mas deu-lhe a outras; e se alguém limitou o acesso a essa licenciatura foram os seus futuros colegas; por vontade do país há muito que existiam mais licenciaturas nessa área, mas claro, pode queixar-se do país por não ter imposto a sua criação contra o lóbi dos seus futuros colegas;
3.º Voltar ou não! Já falámos sobre isso. Em bolsa de apostas, eu apostava 80 contra 20 como Vexa vai voltar. Não apague este blogue, pois quando eu tiver mais uns cabelos brancos do que tenho, teremos seguramente oportunidade de conferir isso, ok? Mas se quer refiro-lhe a razão principal: este país paga melhor aos médicos do que a maioria dos seus congéneres europeus; uma amiga que costuma passar grandes períodos em França, disse-me que lá uma consulta de especialidade em medicina privada custa muitas vezes metade do que custa aqui;
4.º Quanto ao Sporting, aguardemos; optou-se por comprar jogadores que já conhecem a casa; a coisa não tem dado mau resultado nos últimos anos; o seu Benfica, ao contrário, optou pelo habitual «carregamento» de jogadores; ouvi dizer que no treino de ontem, estavam 39 jogadores e que o Quique só quer 25; está tudo dito! Mas, que ganhe o melhor!
Abç

Uchideshi disse...

Caro Politikos
Pelo que vi o meu caro amigo continua a tentar sofismar o assunto. Se bem se lembra, um dia fi-lo ir ler a Constituição Portuguesa, hoje não o farei concerteza. O ensino deveria estar ao alcance de todos, independentemente da sua classe socio-económica, disso não discorda de mim por certo. Ora então veja-se, o que o meu caro amigo me quer convencer é que, afinal o meu país até foi um "benemérito" ao proporcionar aos meus pais uma condição que me permita hoje estudar no estrangeiro, usufruindo do dinheiro por eles auferido durante uma vida de trabalho. Esse investimento deveria estar ao encargo do estado deixando os "cotas gozar os trocos amealhados" e não andar a patrocinar o meu curso no estrangeiro, ainda por cima com a esperança de um dia voltar e prestar a esse mesmo Estado um serviço do qual ele carece em todos os aspectos, medite lá Vexa agora nesta.
Até posso concordar de certa forma com o seu ponto de vista, optando pela perspectiva que os seus grisalhos lhe vão dando, porém vai refutar a tal igualdade de oportunidades que supra cito e que está bem clara na nossa Constituição.
Quanto ao investimento na "bolsa" olhe que o PSI 20 anda em maré baixa. Eu não apostaria com tanta convicção!!! Esteja descansado que por estes lados não se tenciona terminar este blog, portanto o seu comentário cá estará guardado com dia e hora ;)
A ver vamos como diria o cego!
Grande abraço

Anónimo disse...

Não é que por acaso os seus pais conseguiram uns salários acima da média quando a Gestão Financeira da Empresa onde trabalhavam era Suiça? Director Geral Suiço e Dirt. Financeiro Suiço. Claro que com mão de obra portuguesa, mas bem gerida. Hoje essa Empresa deixou de Ser "UMA GRANDE EMPRESA" PARA SER "UMA EMPRESA GRANDE!". a GESTÃO É HIBÉRICA!!!

Politikos disse...

Caro Uch
Não percebo a sofisma de que fala?! Terá de a explicar com mais clareza! Também não me lembro da conversa que refere em relação à Constituição, mas admito que possa ter existido. Sobre a sofisma. Vexa é que a utiliza permanentemente ao pôr-me nos lábios, conclusões que eu não tirei. O que não é branco não tem de ser preto...
Vamos, porém, aos factos para não andarmos a derivar:
1.º Ninguém disse que o país foi «benemérito» com os seus pais; disse-se que o país proporcionou aos seus pais as condições que lhes permitiram poder financiar o seu curso; é um facto – se foi através de uma empresa privada e multinacional a operar em Portugal ou através de uma empresa pública ou do Estado, é irrelevante para a discussão: são portugueses e trabalharam em Portugal;
2.º A Constituição não é para aqui chamada, o Estado apenas garante a liberdade de aprender e de ensinar, o acesso universal ao ensino obrigatório e a igualdade de oportunidades; Vexa gozou deles, todos;
3.º O investimento – escolheu bem a palavra – na formação superior deve ser, em primeiro lugar, dos próprios interessados, portanto não me parece mal que os próprios o financiem; como também não me chocaria que o Estado pudesse subvencionar a formação de que precisa – e a sua é uma delas – com algumas contrapartidas; tenho – a esse nível – uma posição bastante aberta. Mas nisso, ao exigir tudo do Estado, Vexa é mesmo Português... Lembre-se da célebre frase de Kennedy... Antes de perguntar o que seu país pode fazer por si, pergunte antes o que Vexa pode fazer pelo seu país...
Sobre o seu regresso, para exercer neste nosso país, eu estou convicto de que tal vai acontecer. Veremos daqui a dez anos quem tem razão.
Abç, goze as férias e retempere forças
P.S. - Note que a conversa começou por causa de uma afirmação sua que me parece completamente desproporcionada: a de que aprendeu mais num ano fora do que em dez em Portugal...

Politikos disse...

Caro Shodan
Acho que já o vi por aqui, sob outras designações... ;-)
A empresa de que fala é igual. O que acontece é que no período em que era uma «Empresa Grande» vivia quase em monopólio de mercado no que respeita ao que vendia e hoje em que é uma «Grande Empresa» vive num mercado mais agressivo, mais apertado, com mais concorrência...
É - parece-me - só isso...
Abç