quarta-feira, 21 de maio de 2008

A insustentável solidão do ser !


Há algumas semanas li e reli várias vezes uma crónica com a qual não pude deixar de me retratar. Em primeiro lugar, e não querendo tomar com isto demasiada água benta, presunção ou coisa do género, mas o que é facto é que me identifico bastante com o autor em questão na sua escrita e naquilo que transparece como pessoa. Em segundo lugar porque a reciprocidade de sentimentos perante a vida é claramente notória, indo aquele precisamente ao encontro dos meus conceitos, princípios e principalmente na sua maneira de ser, ou vice-versa pela regra lógica de idades e experiências de vida em questão.

Depois de me permitir esta breve epígrafe, retomo o assunto que me traz aqui, a tal insustentável solidão do “meu” ser, neste caso. Como li nessa crónica que supra cito e fazendo minhas as palavras do autor, revejo-me tal como ele, num tipo de “bicho do mato”, não no sentido depreciativo do cliché em si, mas sinceramente não tenho, como é meu apanágio dizer, “muita pachorra”, passo a expressão, para as pessoas. Não sou de todo uma pessoa sociável, e as multidões atrapalham um pouco o “meu mundo”, palavra de honra que os aglomerados de pessoas impedem-me de viver no meu espaço, de certa forma trancam-me a fluência do raciocínio. Desde há um tempo a esta parte que me habituei a viver sozinho, não tomando a frase no seu sentido literal, nem a parte pelo todo. Já algumas vezes fui “acusado” por pessoas que comigo coabitaram de estar, ou ser ausente, ou melhor dizendo, de viver insistentemente fechado no meu mundo. Curioso é que, palavras desse mesmo autor numa dada entrevista televisiva a certa altura, dizia que, a sua mulher viva com um morto em casa, curiosa a metáfora! Na altura sorri, compreendi e talvez por instantes me tivesse olhado de fora, como se fosse eu “a mulher do morto”. Achei sinistra a imagem mas não pude deixar de a ratificar no que diz respeito à minha pessoa. Não sei se por vicissitudes da vida, se por defeito ou feitio, o que é certo é que me tornei numa pessoa intransigentemente selectiva com aqueles que me rodeiam. Cada vez mais coloco as pessoas no grupo do “vamos lá tomar um café”, café esse que faço muitas vezes por apressar pois o tema de conversa não se coaduna muito com a minha maneira de ser ou de estar na vida. De poucas coisas, ditas de ocasião, sei falar, e frugalidade nas pessoas hoje em dia não é qualidade que abunde por aí diga-se de passagem, o que torna os meus diálogos irritavelmente monossilábicos da minha parte. Não tenho de todo jeito para fazer “sala” e acho que acabo por ser transparente demais chegando por vezes a roçar o desagradável quando a dita “pachorra” começa a escassear. Mea culpa, admito! A versatilidade é uma coisa que admiro especialmente nas pessoas e vejo-me obrigado a reconhecer que não é uma característica predominante da minha pessoa nestas situações. Não querendo cair no plágio novamente, até porque não se sei se alguém da SPA é leitor assíduo deste blog, devo dizer porém que gostaria de aprender a ser um pouco mais sociável, já nem pedia muito, mas alargar um pouco a margem de manobra “do café social” pelo menos ajudaria certamente! Posto isto surgem-me inevitavelmente alguns problemas na relações a vários níveis que mantenho com as pessoas. Em primeiro lugar, a vontade de conhecer novas pessoas e descobrir o seu conteúdo vai notoriamente diminuindo, as amizades que conquistei até hoje, são poucas mas sólidas, interessantes, e no meu ponto de vista saudáveis de parte a parte, têm a mais-valia necessária às duas partes, acrescentam algo aos intervenientes. Logo a minha abertura de espírito a priori não será a mais adequada para novos investimentos a esse nível. Em segundo lugar, aprendi a contar apenas comigo, estou sempre à espera da altura em que tenho de colocar as pessoas para o tão famigerado grupo do “cafézinho social”. Não serão certamente todos os outros que estarão errados, felizmente que também se reconhece por aqui com alguma lucidez, algo alegoricamente do género “Velho do Restelo”!!Como diria Pedro Paixão no seu livro, “Viver todos os dias cansa”!
E eu, nesta minha maneira de ser não posso deixar de concordar em absoluto…

2 comentários:

Anónimo disse...

Entendo perfeitamente a sua "solidão" sem o ser na realidade. Terei talvez o dobro da sua idade e as circunstâncias da vida, tanto nos pontos mais altos, como nos mais baixos por que já passei, ensinaram-me a lidar com a tal "empatia" virtual que é tão usual nos tempos de hoje´. Faz parte da vida (profissional, social e até familiar). Sabendo gerir essa empatia ou antipatia, acredite que vai aprendendo a construir o seu "ser e estar" (na n/língua 2 verbos distintos).
Na vida, as pessoas, mesmo as que amamos, não são o que nós queremos, são o que nós aceitamos!!!

O diálogo nem sempre é filosófico e inteligente. Por vêzes é um bocado de tempo que nos une sem substância, mas com um conteúdo fútil que nos une e que sabemos que temos ali alguém "que por acaso até nos entende, mas não compreende porque somos assim".

Não quer dizer que nos possamos sentir superiores, complicados ou diferentes. SOMOS NÓS!!!

Contudo a compunente humana que obrigatoriamente nos liga ao nosso semelhante tem de deixar os momentos de solidão só para nós. Essa solidão só é boa quando vivida em tranquilidade depois de obra feita e assim podermos estar SÓS!!!!!

Anónimo disse...

Quando estamos sozinhos queremos estar acompanhados, e quando estamos acompanhados queremos estar sozinhos. Isso faz parte de ser humano.

Tema bem escolhido e muito bem escrito, gostei!!!